Império de Aksum, a origem milenar da Etiópia
Um breve passeio pela história milenar do ‘‘Chifre da África’’
Hoje iremos abordar o Império de Aksum (Axum), inscrito como um dos grandes impérios do mundo, na antiguidade.
INTRODUÇÃO AO REINO DE AKSUM - REINO DE SABÁ
O Reino de Aksum (ou Reino de Sabá; também conhecido como Império Aksumita ) era uma superpotencia comercial na área do norte da Etiópia e Eritréia que existia de aproximadamente 100 a 940 EC. Cresceu do período protão-Aksumita da Idade do Ferro por volta do século IV aC para alcançar proeminência no século I dC e foi um dos principais agentes da rota comercial entre o Império Romano e a Índia Antiga. Os governantes aksumitas facilitaram o comércio ao cunhar sua própria moeda aksumita. O estado estabeleceu sua hegemonia sobre o declínio do Reino de Kush (Cuxe) e entrou regularmente na política dos reinos na Península Arábica, eventualmente estendendo seu domínio sobre a região com a conquista do Reino Himyarita. O Profeta Persa Mani considerou Aksum (Axum) como o terceiro dos quatro maiores poderes do seu tempo depois de Roma e da Pérsia, com a China sendo o quarto.
MAKEDA A RAINHA DE SABÁ |
ORIGEM DO REINO DE AKSUM
HAILE SELASSIE - IMPERADOR ETIOPE AKSUMITA DA DINASTIA SALOMANICA |
Voltando alguns séculos antes da Era Cristã, mais precisamente ao século X a.C., de acordo com a mitologia etíope contida no livro Kebra Negast, acredita-se que nesta região viveu a Rainha de Sabá (Makeda). Acredita-se também que a família imperial da Etiópia, bem como os imperadores de Axum, têm sua origem a partir de Menelik I, filho da Rainha de Sabá/Aksum Makeda e do Rei Yahudim (Judeu) de Israel (Yahshurun) Salomão. Esta dinastia governou o país durante aproximadamente três mil anos, terminando apenas em 1974, com o Imperador Haile Selassie, o que demonstra a origem milenar da Etiópia.
MAKEDA A RAINHA DE SABÁ - REINO DE AKSUM |
Apesar da Etiópia ser uma das áreas de ocupação humana mais antigas do mundo, pouco se sabe sobre os períodos anteriores à unificação dos povos da região sob o Império de Axum, no século I d.C. A origem da Rainha de Sabá ainda hoje é reivindicada por etíopes e por iemenitas (Iêmen) e o que se sabe é fruto de estudos arqueológicos e dos escritos do Kebra Negast. Ademais, há indícios arqueológicos de que Makeda viveu na cidade de Askum, capital do Império Axumita.
EXTENÇÃO TERRITORIAL DO IMPÉRIO AKSUMITA // REINO DE SHEBA [SABÁ]
A partir do século I da Era Cristão, teve início a expansão de Axum pelo norte da Etiópia, parte da Pérsia, sul da península arábica (Iêmen) e, no século IV, a conquista de Meroé, capitão do Reino de Kush (Sudão). Deste modo, construiu-se um império, que abarcava ricas terras cultiváveis do norte da Etiópia, do Sudão e da Arábia meridional, cujos monarcas pagavam tributos ao ‘‘rei dos reis’’ de Aksum. Aksum alongou-se por aproximadamente um milênio, a partir do século I da Era Cristã.
IMPÉRIO AKSUMITA [AXUMITA]
O Império Aksumita, no seu auge, se estendia pela maior parte da atual Eritreia, norte da Etiópia, Iêmen ocidental, sul da Arábia Saudita e Sudão. A capital do império era Aksum, agora no norte da Etiópia. Hoje uma comunidade menor, a cidade de Aksum já foi uma metrópole movimentada e centro cultural e econômico. Pelo reinado de Endubis no final do século 3, o império começou a cunhar sua própria moeda. Converteu-se ao cristianismo em 325 ou 328 sob o rei Ezana, e foi o primeiro estado a usar a imagem da cruz em suas moedas. O reino usou o nome “Etiópia” já no século IV.
GUERREIROS AKSUMITAS |
Por 350, Aksum conquistou o reino de Kush. Por volta de 520, o rei Kaleb enviou uma expedição ao Iêmen contra o Rei Himyarita [Judeu] Dhu Nuwas, que estava perseguindo a comunidade cristã / aksumita em seu reino. Depois de vários anos de lutas políticas e militares, o Iêmen caiu sob o domínio do general aksumita Abreha, que continuou a promover a fé cristã até sua morte, não muito depois da qual o Iêmen foi conquistado pelos persas. De acordo com Munro-Hay, essas guerras podem ter sido o cisne de Aksum como uma grande potência, com um enfraquecimento geral da autoridade aksumita e o gasto excessivo em dinheiro e mão-de-obra.
REINO DE KUSH [CUXE] - REINO DA NÚBIA |
COMÉRCIO & CULTURA AKSUMITA
Cobrindo partes do que hoje é o norte da Etiópia e Eritréia, Aksum estava profundamente envolvido na rede comercial entre a Índia e o Mediterrâneo (Roma, mais tarde Bizâncio), exportando marfim, tartaruga, ouro e esmeraldas e importando seda e especiarias. O acesso de Aksum ao Mar Vermelho e ao Alto Nilo permitiu que sua forte marinha lucrasse com o comércio entre vários estados africanos (Núbia), árabes (Iêmen) e indianos.
CIVILIZAÇÃO PERSA - PERSAS ELAMITAS |
O Império Aksumita [Sabaíta] negociou com os comerciantes romanos, bem como com os comerciantes Egípcios [Cananeus] e Persas [Elamitas].
EGÍPCIOS MIZRAYNITAS - REINO KHEMET DE MIZRAYM |
As principais exportações da Aksum foram produtos agrícolas. A terra era fértil durante o tempo dos Aksumitas e as principais culturas eram grãos como trigo e cevada. O povo de Aksum também criou gado, ovelhas e camelos. Animais selvagens foram caçados por chifres de marfim e rinoceronte.
Extensão da Rota da Seda / Rota da Seda: As economicamente importantes rotas ferroviárias do norte da Rota da Seda e do Sul da Especiaria (Leste). As rotas marítimas ao redor do corno da Arábia e do subcontinente indiano foram a especialidade de Aksum por quase um milênio.
O império era rico em depósitos de ouro e ferro, e o sal era um mineral abundante e amplamente comercializado.
Aksum se beneficiou de uma grande transformação do sistema de comércio marítimo que ligava o Império Romano e a Índia. Começando por volta de 100 aC, uma rota do Egito para a Índia foi estabelecida, fazendo uso do Mar Vermelho e usando ventos de monção para atravessar o mar da Arábia diretamente para o sul da Índia. Aksum estava idealmente localizado para aproveitar a nova situação comercial. Adulis logo se tornou o principal porto para a exportação de produtos africanos, como marfim, incenso, ouro e animais exóticos. Os escravos também eram negociados nas mesmas rotas. Durante os séculos 2 e 3, o Reino de Aksum continuou a expandir seu controle da bacia do sul do Mar Vermelho. Uma rota de caravanas para o Egito, que contornou completamente o corredor do Nilo, foi estabelecida. Aksum conseguiu se tornar o principal fornecedor de produtos africanos para o Império Romano.
MOEDA AKSUMITA DO REI OSANA |
Uma moeda de ouro do rei Aksumita Ousas (Osana), especificamente um solidus de um terço, diâmetro 17 mm, peso 1,50 g.
ARTE AKSUMITA ETIOPE |
O Império Aksumita foi uma das primeiras organizações africanas economicamente e politicamente ambiciosas a emitir suas próprias moedas, que traziam lendas em Ge’ez e em grego.
BÍBLIA ETIOPE AKSUMITA |
O Império Aksumite é notável por várias realizações, como seu próprio alfabeto, o alfabeto Ge’ez, que acabou sendo modificado para incluir as vogais. Além disso, nos primeiros tempos do império, obeliscos gigantes para marcar os túmulos dos imperadores (e nobres) foram construídos, o mais famoso dos quais é o Obelisco de Aksum.
LIVRO ETIOPE EM GE'EZ |
Sob o imperador Ezana, Aksum adotou o cristianismo no lugar de suas antigas religiões politeístas e judaicas. Isso deu origem até os dias atuais etíope ortodoxa Tewahedo Church (autonomia concedida apenas a partir da Igreja Copta em 1953), e da Eritréia Ortodoxa Tewahdo Church (autonomia concedida a partir da igreja ortodoxa etíope em 1993). Desde o cisma com a ortodoxia seguindo o Concílio de Calcedônia (451), tem sido uma importante igreja miafisita, e suas escrituras e liturgias continuam a ser em Ge’ez.
TEMPLO AKSUMITA ESCUPIDO EM ROCHA - ARQUITETURA DE AKSUM |
A Estela de Roma (também conhecida como Obelisco de Aksum) em Aksum (região de Tigray, Etiópia)
ESTELAS AKSUMITAS - ARQUITETURA DE AKSUM |
As Estelas (hawilt / hawilti nos idiomas locais) são talvez a parte mais identificável do legado aksumita. Estas torres de pedra serviram para marcar sepulturas e representar um magnífico palácio de vários andares. Eles são decorados com portas falsas e janelas em design típico Aksumite. As Estelas têm a maior parte de sua massa fora do solo, mas são estabilizadas por enormes contrapesos subterrâneos. A pedra foi frequentemente gravada com um padrão ou emblema denotando a posição do rei ou do nobre.
ARQUITETURA AKSMUITA - IMPÉRIO DE AKSUM |
CURIOSIDADE: ORIGEM BÍBLICA DE SABÁ [SHEBA]Segundo a tradição Hebraica Israelita, cuja base está no livro de Gênesis, houveram três pessoas com o nome Sebá. Duas pessoas da linhagem de Kham [Ham, Cam, Kam, Cão ou Cham] e uma da linhagem de Shem [Sem]. Kham foi o primeiro filho de Noé e Enzara, ou seja o primogênito. Shem foi o segundo filho de Noé e Enzara, ou seja o filho do meio. Tanto Kham quanto Shem eram pretos, ou de cor escura.
IMAGEM REPRESENTATIVA DE KHAM, 1º FILHO DE NOÉ E ENZARA
Os filhos de Kham são: Cuxe, Mizraim, Pute e Canaã.E os filhos de Cuxe são: Sebá, Havilá, Sabtá, Raamá e Sabtecá; e os filhos de Raamá: Sebá e Dedã. (Gênesis 10:6,7)
IMAGEM REPRESENTATIVA DE SHEM, 2º FILHO DE NOÉ E ENZARA
Os filhos de Shem são: Elão, Assur, Arfaxade, Lude e Arã. [...] E Arfaxade gerou a Selá; e Selá gerou a Éber (Hebreus).E a Éber nasceram dois filhos: o nome de um foi Pelegue, [...], e o nome do seu irmão foi Joctã. E Joctã gerou a Almodá, [...] A Obal, a Abimael, a Sebá, [...] (Gênesis 10:22-30)
Levando em consideração a localização do Reino de Aksum (Reino de Sabá) situado na Abissínia (território localizado no continente africano), os filhos de Cuxe são os mais indicados para a posição de progenitores do Reino de Sabá. Como podemos ver os os filhos de Kham se estabeleceram predominantemente pelo continente africano, mas os cananeus estabeleceram territórios na África, na Ásia e formaram colonias na Europa. Também sabemos que aksumitas (axumitas) são parentes étinicos dos núbios e que estão relacionados a etinia dos kushutas, que por sua vez são khamitas (camitas, hamitas).
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Os filhos de Kham são: Cuxe, Mizraim, Pute e Canaã.
E os filhos de Cuxe são: Sebá, Havilá, Sabtá, Raamá e Sabtecá;
e os filhos de Raamá: Sebá e Dedã. (Gênesis 10:6,7)
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Os filhos de Shem são: Elão, Assur, Arfaxade, Lude e Arã.
[...] E Arfaxade gerou a Selá; e Selá gerou a Éber (Hebreus).
E a Éber nasceram dois filhos: o nome de um foi Pelegue, [...], e o nome do seu irmão foi Joctã. E Joctã gerou a Almodá, [...] A Obal, a Abimael, a Sebá, [...] (Gênesis 10:22-30)
Levando em consideração a localização do Reino de Aksum (Reino de Sabá) situado na Abissínia (território localizado no continente africano), os filhos de Cuxe são os mais indicados para a posição de progenitores do Reino de Sabá. Como podemos ver os os filhos de Kham se estabeleceram predominantemente pelo continente africano, mas os cananeus estabeleceram territórios na África, na Ásia e formaram colonias na Europa. Também sabemos que aksumitas (axumitas) são parentes étinicos dos núbios e que estão relacionados a etinia dos kushutas, que por sua vez são khamitas (camitas, hamitas).
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DA QUEDA DE AKSUM AO NASCIMENTO DO IMPÉRIO ETIOPE
A EXPANSÃO DO IMPÉRIO ISLÃMICO |
Eventualmente, o Império Islâmico assumiu o controle do Mar Vermelho e da maior parte do Nilo, forçando a Aksum a se isolar economicamente. A noroeste de Aksum, no atual Sudão, os estados cristãos de Makuria e Alodia duraram até o século 13 antes de se tornarem islâmicos. Aksum, isolado, ainda assim permaneceu cristão.
TERRITÓRIO DO IMPÉRIO DE AKSUM ANTES DA EXPANSÃO ISLÃMICA |
Depois de uma segunda idade de ouro no início do século 6, o império começou a declinar, acabando por cessar a produção de moedas no início do século VII. Na mesma época, a população aksumita foi forçada a ir mais longe para o interior, em busca de proteção, abandonando Aksum como a capital. Os escritores árabes da época continuaram a descrever a Etiópia (não mais conhecida como Aksum) como um Estado extenso e poderoso, embora tivesse perdido o controle da maior parte da costa e seus afluentes. Enquanto a terra foi perdida no norte, ela foi conquistada no sul, e a Etiópia ainda atraiu mercadores árabes. A capital foi transferida para um novo local, atualmente desconhecido, embora possa ter sido chamado de Ku’bar ou Jarmi.
Existem hipóteses diferentes sobre por que o império entrou em colapso, mas os historiadores concordam que as mudanças climáticas devem ter contribuído muito para o fim do Aksum. À medida que os lucros internacionais da rede de câmbio diminuíam, a Aksum perdeu sua capacidade de controlar suas próprias fontes de matérias-primas, e essa rede entrou em colapso. A pressão ambiental já persistente de uma grande população para manter um alto nível de produção regional de alimentos teve que ser intensificada. O resultado foi uma onda de erosão do solo que começou em uma escala local de cerca de 650 e alcançou proporções catastróficas após 700. Presumivelmente, insumos socioeconômicos complexos agravaram o problema. Estas são tradicionalmente refletidas no declínio da manutenção, deterioração e abandono parcial de terras agrícolas marginais, mudanças na exploração pastoril destrutiva, e eventual degradação do solo por atacado e irreversível. Essa síndrome foi possivelmente acelerada por um aparente declínio na confiabilidade das chuvas a partir de 730 a 760, com o suposto resultado de que uma temporada de cultivo moderna abreviada foi restabelecida durante o século IX.
IMPÉRIO DE AKSUM - REINO DE SABÁ |
O Império de Aksum (Axum) e, posteriormente, o Império Etíope deixou uma diversidade de riquezas para a posteridade, a exemplo da língua ainda falada na região (ge’ez), a igreja etíope com suas tradições, a história milenar que remonta à Rainha de Sabá e um patrimônio arquitetônico. Na Idade Média, há o renascimento deste reino, sobretudo com a construção das famosas onze igrejas da cidade de Lalibela, esculpidas em rochas e no solo, as quais, desde 1978, são patrimônio histórico da humanidade.
ARQUITETURA AKSUMITA |
Nos séculos seguintes, Axum entrou em decadência, mas a importância simbólica para a religião e a realeza etíope, nunca foi esquecida. Atualmente, a cidade de Aksum e Lalibela são cidades sagradas para a Igreja Ortodoxa Etíope, em vista, respectivamente, do início da cristandade e das construções sagradas.
MAKEDA A RAINHA DE SABÁ & AKSUM |
Fonte:
- Síntese da coleção história geral da Africa, I: pré-história ao século XVI
- From Babylon to Timbuktu: A History of the Ancient Black Races Including the Black Hebrews - Rudolph R. Windsor
- Kebra Nagast - Lorenzo Mazzoni
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5 Comentários
Parabéns por divulgar a História da África.
ResponderExcluirÉ muito bom resgatar a história dos nossas irmãns e irmãos.
ExcluirSensacional,espero mais conteúdo como este .
ResponderExcluirEsrtaremos fazendo muitas postagem sobre a história da nossa amada África
ExcluirO Glorioso Império Aksumita. Herdeiro do Reino de Sabá. Muito show a história dessa civilização.
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